Em defesa dos estudantes angolanos
Éder Ferreira é advogado. Trabalha para a prestigiada sociedade Albuquerque & Associados. Licenciou-se pela Clássica e está a terminar o mestrado pela Católica, ambas em L
“As empresas portuguesas que querem investir em Angola terão muito a ganhar se apostarem na formação profissional de jovens angolanos que estudam em Portugal e que depois serão absorvidos pelo mercado nacional”. Quem o afirma é Éder Pires Ferreira, um jovem advogado angolano, com grande domínio da palavra
e firmeza de líder.
“É uma aposta na preparação e renovação dos seus próprios quadros e também da cultura empresarial”, declara.
“Houve muitos angolanos que se sacrificaram por Angola. Antes, pela independência e depois pela paz. Compete-nos a nós, gerações mais novas erguer o futuro e estimar o passado”, disse Éder, 27 anos, a trabalhar para a prestigiada sociedade de advogados Albuquerque & Associados, ligada aos professores catedráticos Ruy e Martim de Albuquerque, da Universidade de Lisboa.
Curriculum notável
Natural de Luanda, de uma família originária de Malange, é um conhecedor da vivência dos estudantes angolanos em Portugal, país que considera “uma segunda pátria, para todo o angolano”, pela História e cultura partilhada, pela língua comum. “É o país europeu com mais parecenças com Angola”, sublinha.No percurso e na atitude, põe cuidado e comedimento, qualidades que diz apreciar. Prefere tratar das questões jurídico-legais, ligadas às empresas e negócios, do que praticar a advocacia na barra do tribunal. “A justiça dos tribunais é um caminho tortuoso para quem sofre com as injustiças da vida”, refere com alguma amargura, como quem já sofreu desilusões com a justiça dos homens.
Éder é presidente da Mesa da Assembleia Geral da Associação de Estudantes Angolanos em Portugal, no mandato que termina em 2010, e frequenta o curso de Legal Law Master — em International Business Law, na Universidade Católica Portuguesa, embora se tenha licenciado pela Clássica.
Foi estudar para Portugal quando o pai, João Pires Ferreira, estava a acabar o curso de Engenharia, no Instituto Superior Técnico. A mãe, Maria da Conceição César de Sá, mulher determinada e competente, trabalhou muitos anos na Embaixada de Angola em Lisboa, tendo deixado obra e conquistado prestígio, carinho e amizade junto dos estudantes, sendo conhecido como a “Tia Mariazinha”.
Éder já foi vogal do Conselho Directivo da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, vogal da Comissão Disciplinar do Senado em 2008, presidente do Conselho Fiscal da Associação Académica, membro da Assembleia de Representantes e pertenceu à Direcção do Núcleo dos Estudantes Africanos da mesma prestigiada faculdade.
Três mil estudam em lisboa
Em Portugal estudam cinco mil angolanos nas diferentes universidades do país, dos quais três mil estão concentrados em Lisboa.
Alguns são apoiados pelos familiares, outros vão por conta própria. Os que se encarregam de si próprios acabam por ter que trabalhar na restauração, hotelaria, call-centers e supermercados, para suportar os estudos.
Há casos de dificuldades que levam as Associações de Estudantes a intervir, providenciando livros, dinheiro e até explicações.
“Os livros são muito caros. É preciso tirar muitas fotocópias. Até os estudantes com bolsas de estudo, têm de saber gerir bem o dinheiro”.Porém, realçou Éder, “os que fazem maiores sacrifícios acabam por ser os melhores alunos, porque não podem dar-se ao luxo de se distrair”.Muitos estudantes vivem nas residências universitárias, outros alugam quartos ou apartamentos que partilham com colegas, outros ficam em casa de familiares. As zonas habitacionais mais procuradas são Sintra, Almada, Lisboa, Porto, Braga e Coimbra, os centros urbanos mais próximos das universidades.
preferem Ciências exactas
Éder explica que a maioria escolhe as ciências exactas, porque em Angola o ensino de base privilegia essa formação. “O angolano é bom a fazer contas, mesmo que sejam as da sua preferência”, afirma com uma ponta de malícia.
“Embora seja preciso de tudo”, o Direito e Medicina são as preferências tradicionais. Engenharia, Economia, Gestão, Informática e Electrónica são os que têm maior empregabilidade no actual contexto de desenvolvimento do país.
Éder explica que parte dos estudantes, sobretudo os dos cursos técnicos, vai estudar para fora com bolsas concedidas pelas empresas.
As petrolíferas assumem a pole position, principalmente a Sonangol, mas também a BP e a Total, seguidas de alguns Ministérios. Porém, o grosso dos estudantes bolseiros deriva do Instituto Nacional de Bolsas de Estudo (INABE), afecto à Secretária de Estado do Ensino Superior.
Os engenheiros do petróleo formam-se nos países anglo--saxónicos, como Inglaterra, Escócia e Estados Unidos, apoiados pelas petrolíferas. Em Portugal, explicou o jovem advogado, há muitos bons médicos angolanos que não conseguem ter condições equivalentes no país e que, por isso, são tentados a ficar.
“Creio que agora se aposta mais na reintegração dos quadros na diáspora, em particular, os profissionais de saúde. Afinal, o básico em Angola é o pão, água, luz e saúde”, diz Éder, lembrando ainda os quadros angolanos dispersos pelos Estados Unidos, Brasil, Espanha, África do Sul, Rússia e Cuba.
O jovem advogado, que foi bom aluno e aprecia a leitura de temas de Política e Economia — agora está a ler A Origem das Crises Financeiras, de George Cooper — considera que todos os quadros na diáspora podem ajudar ao desenvolvimento de Angola. “Cabe à juventude gerir o futuro do país e melhorar a qualidade dos serviços, públicos e privados. Temos que combater o estigma do T.I.A.” (sigla para This is Africa, ou seja “Isto é África”).
Mais apoio da universidade
O dirigente associativo defende maior apoio das universidades aos estudantes africanos, através da redução de propinas, em geral elevadas, ou uma maior abrangência dos critérios de apoio e subsidiação. “Há estudantes que, por falta de documentos, visto ou autorização de residência não conseguem ter senhas para o almoço”. Esta é uma situação que Éder e os colegas tentaram combater quando integraram a Associação Académica da Universidade Clássica de Lisboa. “Um departamento que ‘marcámos’ desde o início foi o da Acção Social e aí tivemos um representante, o Adilson Lima, que durante três anos conseguiu dar muito a quem de facto merecia”.
Possuidor de grande experiência no meio associativo, Éder Ferreira, casado e com dois filhos, é um crítico das falhas de gestão das associações estudantis. “O empenho voluntarioso dos estudantes é o suor que alimenta a força das instituições académicas e o sangue que mantém vivo o associativismo estudantil angolano, mas falta-nos oxigénio”, afirmou, focando-
-se na falta de meios e fundos.
Como se diz na sua língua materna, o Quimbundo: “Malembe, malembe” (devagar se vai ao longe!).
O perfil do estudante angolano em portugal
São cerca de cinco mil, dos quais três mil estão concentrados em Lisboa. Muitos têm de trabalhar para suportar as despesas. Muitos estudantes vivem nas residências universitárias,
outros alugam quartos ou ficam em casa de familiares.
No que respeita aos cursos, os angolanos preferem os ligados
às ciências exactas. Engenharia, Economia, Gestão, Informática
e Electrónica são os que têm maior empregabilidade.
segunda-feira, 15 de junho de 2009
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